11 de jun. de 2010

Sombra

  O robô parou . Exatamente na sua frente . Sorriu . Por dentro , estava derretendo , não o robô , mas os olhos que não conseguiam desviar-se .

  Queria ser o oposto . Sentia , infelizmente . Chorava , infelizmente . Possuía o que de mais humano uns desprezavam . Queria fazê-lo também . Era impossível . Como achar uma saída para aniquilar a própria alma já moldada ?

  Humanizar era , talvez , a tarefa mais árdua de sua total existência : no sentido de negação . Era como se fosse um Deus tentando tornar-se apenas um .

  Aquele olhar não engana . Todo conjunto , até poderia ; todas palavras despejadas , poderiam ; toda multidão gritando , poderia . Mas quando se tratava de olhar permanentemente , não sabia mentir .

  Gostava de brincar com sentimentos novos rotulados . Facilidade .

  Enquanto os olhos brigavam infernalmente , afim de desvincularem-se de algo , o robô continuava paralisado . Apenas rotulando , rotulando , rotulando ...

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