29 de ago. de 2010

Agora

  Ao andar , observava cuidadosamente as linhas de cada piso . Sempre gostou de pisar certo em todos . Seria um vício ? Fazia assim também na vida ? Acertando ? Ou errando com medo de ser muito boa para acertar ?

  Não deixava de passar despercebida . Centro das atenções ? Não dessa maneira . Apenas sentia-se confortável com alguns olhares sob seu conjunto . Talvez fosse um jeito de poder se enxergar também .

  Era impaciente .

  O agora tornava-se , a cada dia , seu principal aliado . 

21 de ago. de 2010

Rima

  Acendeu um cigarro e , em apenas um gole tomou toda vodka naquele copo .

  Lembranças começaram a invadir sua mente: não esquecia , nem por um segundo se quer do gosto tentador daquela noite .

  E que noite ...

  O fervor do corpo emana pela cama a ponto de fazê-la molhada , mesmo sem se tocar .

  Os dedos , ao encostarem na pele , estremeceram ; fazia movimentos leves , como uma pena , tornando-a mais sensível possível ; a língua agora dançava ritmadamente sob os bicos dos seios mais fartos já vistos . Ela ofegava .

  Como não conseguia se controlar , a língua , juntamente com todo êxtase , escorregava fervorosamente . Mordia a barriga ; descia, fazendo contornos entre coxas e virilha ; ah , como ela tremia . Era rimada , sim!

  A movimentação perto , disse perto , do sexo não parava . Tortura gostosa . Para cima , depois para baixo ; outro lado .

  Era sexy o jeito de demonstrar prazer .

  Ao colocar a boca no sexo , sentiu todo líquido invadindo o próprio corpo : agora era ela também .

  Lambia , chupava e enfiava . Ela gemia , se contorcia , rebolava .

  Todos os verbos mais sacanas  conjugados em duas pessoas , mas refletidos em apenas uma . 

18 de ago. de 2010

A sangue frio

  “Eu não sou , eu não sou , eu não sou!Eu ...! Não...!” , refletia enquanto não conseguia esconder o medo , mesmo olhando fixamente para .

  “Se soubesses. Ah! Pára de pensar . Mas como ? Não há um mecanismo ? Aliás , não deveria eu não pensar ? Não lembro , muito menos faço questão . ”

  Num ato impulsivo levantou a mão esquerda até a altura do queixo ; num movimento excessivamente rápido , levou a palma da mão aberta para o rosto na sua frente .

  A marca vermelha estampada . Combinava com o rosto . Trouxe vida , digamos .

  Uma lágrima caiu .

  O sal , ao atingir a boca a fez tremer .

  “Pára , pára , pára!”

  Continuava , apesar da dor , a olhar . Estava encarando , talvez encarando os próprios demônios .

  Quem sabe ?

  “Está frio . Melhor arranjar uma blusa , não ? Hein ?”

  Olhou em volta : vazio .

  “Responde!” , gritava .

  ...

  Sentiu novamente aquele corpo em chamas .

  “Perversa!” , pensou .

  “Não se deixe dominar . Não é de seu fetiche , é ? Mesmo ? Ah  , então , como íamos dizendo ...”

  E permaneceu assim . 

6 de ago. de 2010

Versus X Versus

  05:01 da manhã . O som do silêncio ecoa na sua mente . Não há mais nada tentador : poderia dizer que todos os mais diversos sons unem-se , numa batida rítmica enlouquecedora . Mas o mais incrível : continua silêncio .

  A movimentação não pára um instante se quer . Vê cores , formas , olhares , sentidos ... olha para o que deseja e claro para o que não .

  Se , buscando uma compreensão maior no seu olhar , enxergar a si mesma , assustarás e muito . Porque saberás que também se enxerga na minha reflexão .

  Deixe-me escrever . Guia-me . Não você , não , não . Não!

  Tornando-me prisioneira da própria alma . Virou refém de você . Você X você.

  Pare de olhar . Não perceba . Não imagine . Não respire . Não escreva .

  Olhe , sim . Perceba , sim . Imagine , sim . Respire , sim . Escreva , sim .

  Coloque para fora o que mais de impuro habitas . Toda essa contradição .

  Feche os olhos . Vá para bem , bem longe . Onde haja apenas cores que te façam rir . É , aí mesmo , no silêncio da sua escuridão estática .

  Tudo brilha lá fora . Sim , é tão intenso . Como se fosse uma questão de sobrevivência .

  Estaria então tornando-se um cego com completa visão ? Ou um cego tentando enxergar ?

  Oh , como é desprezível : ser feio , grotesco , excluído .

  Mas realmente se importa ?

  Ser excluído é , aqui , um inclusão no que há de mais belo  para ele , é claro .

  Mas o que é o mais belo ? Já que é tachado de feio ?

  Mais belo é poder , talvez , se reconhecer em cada olhar ( também grotesco ) que irá indiretamente te cercar .

  Um ciclo .

  Como no mundo dos belos . Mas ali o clico é uma doce ilusão: a falsificação mais cara , mas mais barata dos olhares . São clones . São desprezíveis . Comida velha , estragada .

  Não me diga que é insano dizer que o feio é belo e o belo é feio .

  Imposição cansa .

  Enquanto ainda estiver aqui , buscando o próprio caminho para as indagações  seu mundo será o mais ao contrário possível .

  O sentir de ser não está vinculado apenas a ser e sim a existir .

  Eu sou , logo existo . Independente de estereótipos .