19 de set. de 2010

A paráfrase

Estava fazendo , mesmo involuntariamente , uma paráfrase . Não para os outros e sim para ela . Tentava buscar as mais complexas e simples palavras para descrever o que já tinha passado . Passado , exatamente ...

“Me abraça assim ...” , lembrou .

Mesmo quando o vento batia no seu rosto , causando um certo arrepio , sentia o cheiro . Até no ar parafraseava. Se pudesse escreveria também , é claro . E descreveria nos mínimos detalhes , ainda.

Talvez precisasse da própria “paráfrase” . Ou não . O contrário? Quem sabe ... ninguém , na verdade , apenas o papel e a paráfrase .

1 de set. de 2010

Hipocrisia

  Estava eu , uma simples mortal num ônibus normal ( lê-se normal , por favor , porque apesar de ser pobre , sei diferenciar “dessas coisas de rico aí  ” ) voltando para minha terra .

  A viagem seguia . Muito agradável . Olhei pela janela ( claro , só sento nela , querido ) : o sol batendo em todas folhas , lindo . Mexi no meu brinco de fecheclair da minha última mochila que , tadinha , rasgou . Acreditam ? Não , nem eu , mas é  outra história . Então peguei meu espelhinho na minha bolsa da Avon ( muito chique , amiga ) . O rosa de meus brincos é de uma lindeza só . Notei que estou bigoduda , mas deixa pra lá . Quando chegar em Petrópolis  , estou em Caxias , comprarei uma pinça . Dá pra aguentar , né .

  Vasculhando as coisas dentro da bolsa , achei meu mp4 de 100 reais que comprei na última promoção que teve na Casa e Vídeo , lindo de morrer . Eu ouvia amarradona Latino (ai , amo! ) quando de repente ... um policial entrou . Meu coração disparou . Sempre tive muito medo de armas . Ai!

  Ele foi decidido na direção de uma loirinha , linda por sinal e , digo , com muita carinha de ser rica .

  “Levanta!” , o policial ordenou .

  “Mas ... espera , eu pos...”

  “AGORA!”

  “...”

  Assim que ela ficou de pé , a surpresa , amigos : 5 quilos de maconha dentro da sua mochila . Que horrível! Uma menina que tinha tudo para ser alguém na vida . Como pôde ? Eu não perderia a oportunidade que ela acabou de desperdiçar . Foi burra , tadinha .

  Não houve mais nenhuma palavra .

  Agora estávamos todos quase chegando ao nosso destino .

  O que eu só fazia era pensar .

  Ufa!

  Desci aliviada do ônibus .

  Parei naquelas lanchonetes que servem aqueles salgados + refresco por R$1,50 , sabe? Uma delíííícia . Ai . vou passar debaixo da mesa e chamar os cachorros , que nem a linda da Ana Maria Braga faz . Mas fica pra outra hora .

  Paguei aquele R$2,20 para pegar outro ônibus  que eu particularmente acho um absurdo!

  Ainda bem que a fila para o ônibus do centro estava pequena . Na minha frente tinha apenas uma loirinha ( também ) com muita cara dessas sapatões ( que , por amor de todo Deus sagrado , são os capetas que vieram destruir o mundo ) ouvindo música .

  Como não sou preconceituosa , comecei a puxar assunto com ela , né .

  “Prenderam uma menina loira lá no ônibus de Caxias com maconha!” , falei .

  “Sério?!” , ela perguntou .

  “Aham , esse mundo está perdido !”

  E a menina ficou me olhando por um tempo , sem nada dizer . Depois colocou o fone no ouvido e deu um sorriso no canto dos lábios . Deveria usar maconha também , pobrezinha .

  O ônibus enfim chegou .

  1 hora depois eu cheguei na casa do pastor , para entregar a encomenda . Depois iria para minha casinha linda .

  Ele me deu aquele abraço que tanto gosto .

  “Conseguiu?”

  “Consegui , senhor!” , eu estava eufórica .

  Então , com toda delicadeza , tirei um pacote da minha bolsa da Avon  e coloquei na mesa os 500 dólares roubados na praia de Ipanema .

  Escutem , amigos , apenas fiz isso porque o pastor disse que Deus já reservou minha vaga no céu , perto dos irmãos ...

29 de ago. de 2010

Agora

  Ao andar , observava cuidadosamente as linhas de cada piso . Sempre gostou de pisar certo em todos . Seria um vício ? Fazia assim também na vida ? Acertando ? Ou errando com medo de ser muito boa para acertar ?

  Não deixava de passar despercebida . Centro das atenções ? Não dessa maneira . Apenas sentia-se confortável com alguns olhares sob seu conjunto . Talvez fosse um jeito de poder se enxergar também .

  Era impaciente .

  O agora tornava-se , a cada dia , seu principal aliado . 

21 de ago. de 2010

Rima

  Acendeu um cigarro e , em apenas um gole tomou toda vodka naquele copo .

  Lembranças começaram a invadir sua mente: não esquecia , nem por um segundo se quer do gosto tentador daquela noite .

  E que noite ...

  O fervor do corpo emana pela cama a ponto de fazê-la molhada , mesmo sem se tocar .

  Os dedos , ao encostarem na pele , estremeceram ; fazia movimentos leves , como uma pena , tornando-a mais sensível possível ; a língua agora dançava ritmadamente sob os bicos dos seios mais fartos já vistos . Ela ofegava .

  Como não conseguia se controlar , a língua , juntamente com todo êxtase , escorregava fervorosamente . Mordia a barriga ; descia, fazendo contornos entre coxas e virilha ; ah , como ela tremia . Era rimada , sim!

  A movimentação perto , disse perto , do sexo não parava . Tortura gostosa . Para cima , depois para baixo ; outro lado .

  Era sexy o jeito de demonstrar prazer .

  Ao colocar a boca no sexo , sentiu todo líquido invadindo o próprio corpo : agora era ela também .

  Lambia , chupava e enfiava . Ela gemia , se contorcia , rebolava .

  Todos os verbos mais sacanas  conjugados em duas pessoas , mas refletidos em apenas uma . 

18 de ago. de 2010

A sangue frio

  “Eu não sou , eu não sou , eu não sou!Eu ...! Não...!” , refletia enquanto não conseguia esconder o medo , mesmo olhando fixamente para .

  “Se soubesses. Ah! Pára de pensar . Mas como ? Não há um mecanismo ? Aliás , não deveria eu não pensar ? Não lembro , muito menos faço questão . ”

  Num ato impulsivo levantou a mão esquerda até a altura do queixo ; num movimento excessivamente rápido , levou a palma da mão aberta para o rosto na sua frente .

  A marca vermelha estampada . Combinava com o rosto . Trouxe vida , digamos .

  Uma lágrima caiu .

  O sal , ao atingir a boca a fez tremer .

  “Pára , pára , pára!”

  Continuava , apesar da dor , a olhar . Estava encarando , talvez encarando os próprios demônios .

  Quem sabe ?

  “Está frio . Melhor arranjar uma blusa , não ? Hein ?”

  Olhou em volta : vazio .

  “Responde!” , gritava .

  ...

  Sentiu novamente aquele corpo em chamas .

  “Perversa!” , pensou .

  “Não se deixe dominar . Não é de seu fetiche , é ? Mesmo ? Ah  , então , como íamos dizendo ...”

  E permaneceu assim . 

6 de ago. de 2010

Versus X Versus

  05:01 da manhã . O som do silêncio ecoa na sua mente . Não há mais nada tentador : poderia dizer que todos os mais diversos sons unem-se , numa batida rítmica enlouquecedora . Mas o mais incrível : continua silêncio .

  A movimentação não pára um instante se quer . Vê cores , formas , olhares , sentidos ... olha para o que deseja e claro para o que não .

  Se , buscando uma compreensão maior no seu olhar , enxergar a si mesma , assustarás e muito . Porque saberás que também se enxerga na minha reflexão .

  Deixe-me escrever . Guia-me . Não você , não , não . Não!

  Tornando-me prisioneira da própria alma . Virou refém de você . Você X você.

  Pare de olhar . Não perceba . Não imagine . Não respire . Não escreva .

  Olhe , sim . Perceba , sim . Imagine , sim . Respire , sim . Escreva , sim .

  Coloque para fora o que mais de impuro habitas . Toda essa contradição .

  Feche os olhos . Vá para bem , bem longe . Onde haja apenas cores que te façam rir . É , aí mesmo , no silêncio da sua escuridão estática .

  Tudo brilha lá fora . Sim , é tão intenso . Como se fosse uma questão de sobrevivência .

  Estaria então tornando-se um cego com completa visão ? Ou um cego tentando enxergar ?

  Oh , como é desprezível : ser feio , grotesco , excluído .

  Mas realmente se importa ?

  Ser excluído é , aqui , um inclusão no que há de mais belo  para ele , é claro .

  Mas o que é o mais belo ? Já que é tachado de feio ?

  Mais belo é poder , talvez , se reconhecer em cada olhar ( também grotesco ) que irá indiretamente te cercar .

  Um ciclo .

  Como no mundo dos belos . Mas ali o clico é uma doce ilusão: a falsificação mais cara , mas mais barata dos olhares . São clones . São desprezíveis . Comida velha , estragada .

  Não me diga que é insano dizer que o feio é belo e o belo é feio .

  Imposição cansa .

  Enquanto ainda estiver aqui , buscando o próprio caminho para as indagações  seu mundo será o mais ao contrário possível .

  O sentir de ser não está vinculado apenas a ser e sim a existir .

  Eu sou , logo existo . Independente de estereótipos .

  

9 de jul. de 2010

Você?

  Chama-me de suja .

  Evoque os mais impuros sentidos , deixando assim , transparecer todas suas formas .

  Penetre-me com um , dois , três , até quatro dedos! Selvagem! Entrando na imensidão encharcada , podendo chegar no ilimitado do prazer .

  Ilimitado , sim . Porque aqui já encontra-se completamente nua ( não literalmente ) . Nua em alma , imaginação . Alheia ? É claro! Não se trata apenas de você , mas sim de quem também te despe . Os atores secundários trabalham ardentemente na busca do seu mais intenso . Ah , que intenso ... Deliciam-se , mesmo não sendo tocados .

  Já você , os toca mentalmente , mesmo não imaginando-os ali . É involuntário.

  Poderia afirmar que é apenas “somente” ? Um ato sem sentimento ?

  Não ...

  Adentram no seu eu mais profundo . Se após , negar , fazer o que ? Nada . É você . Mas também uma mistura altamente erótica de todos seus “eus secundários” . 

6 de jul. de 2010

Ausência de tudo

  Olhou em volta ; tudo se movimentava com a mesma velocidade de uma estátua . 

11 de jun. de 2010

Sombra

  O robô parou . Exatamente na sua frente . Sorriu . Por dentro , estava derretendo , não o robô , mas os olhos que não conseguiam desviar-se .

  Queria ser o oposto . Sentia , infelizmente . Chorava , infelizmente . Possuía o que de mais humano uns desprezavam . Queria fazê-lo também . Era impossível . Como achar uma saída para aniquilar a própria alma já moldada ?

  Humanizar era , talvez , a tarefa mais árdua de sua total existência : no sentido de negação . Era como se fosse um Deus tentando tornar-se apenas um .

  Aquele olhar não engana . Todo conjunto , até poderia ; todas palavras despejadas , poderiam ; toda multidão gritando , poderia . Mas quando se tratava de olhar permanentemente , não sabia mentir .

  Gostava de brincar com sentimentos novos rotulados . Facilidade .

  Enquanto os olhos brigavam infernalmente , afim de desvincularem-se de algo , o robô continuava paralisado . Apenas rotulando , rotulando , rotulando ...

28 de mai. de 2010

Cansaço proveitoso

  Está tudo ao contrário . Te prenderam numa corda , de cabeça para baixo , para assim , erroneamente , enxergar melhor .

  Ao invés de começar pelo começo , não  . Busca um fim  imediato , tentando logo satisfazer o prazer inicial . É satisfatório ? É . Como negar ? Errado ? Não . Incompleto ? Sim .

  Dentre todas as características , deixa escapar a mais bela : você . A alma . O ser . O físico está lá , prontinho para ser usado e usado e usado e usado ...

  Chega uma hora que cansa . Mas , infelizmente ( ou felizmente , dúvida ) é um cansaço proveitoso , mas tão que tem medo de perder . Porque sabe , no fundo , a dificuldade de sair da casca protetora .

  Estaria tornando-se completamente vulnerável , deixando transparecer seu tudo mais precioso . Mas o mais perigoso , para você . Para mim , não , o mais belo , de fato .

  Queria entrar nos sonhos ; ler a mente ; desvendar segredos . Egoísmo demais . Como poder ? Seria a invasão mais profunda e neutra na existência .

  Não adianta . Poderia descrever milhões de caminhos , estradas , trilhas , passagens secretas . Enquanto não permitir , nada ao certo será possível , apenas um cansaço proveitoso . 

16 de mai. de 2010

Exclamação

  Se , deixar uma lágrima cair ao te olhar , enxergarás de maneira diferente ?

  Se seu olhar , perdido inconscientemente , cruzar com o meu , enxergarás de maneira diferente ?

  Se sentir o leve frescor de meu hálito percorrendo sua pele , enxergarás de maneira diferente ?

  Se , com apenas um toque , seu corpo pedir fervorosamente pelo domínio do meu , enxergarás de maneira diferente ?

  Se , entre um aperto de mão e palavras despejadas ao vento , enxergarás de maneira diferente ?   

  Se , dentre todos “ses...” , ainda assim não conseguir ver , enxergarás de maneira diferente ?

  Deixe-se , pelo menos uma vez , sentir ... 

8 de mai. de 2010

A essência duelando

  Ao observar , sabia , inconscientemente , de que corria “riscos” . Mas , se olhava atentamente para a beleza em forma de dúvida , como haver perigo ? Já que este precisa de uma concretização segura para ser sentido . Ou lidam com ele a cada segundo , sem saber ? Ou é apenas uma forma subversiva encontrada para desculpas ?

  Pretendia anular qualquer forma que fosse de sentimento . Entendeu ? Se descartaria no meio de toda desordem . O neutro . É , ele! Algo nem que “sim” e “não” . Tá ali , oh , apenas observando . Apenas . Porque é nenhum , é só . Só . Tão só também ...

  Gostaria ? De rabiscar as dúvidas ( e A dúvida ) para buscar uma compreensão no vazio ?

  Escorregaria , borrando ( bem forte ) tudo que pudesse trazer à tona o encanto . Ah , contrastes .

  Passaria o morto em cima do vivo .

  Pausa , pediria .

  Não era forte o suficiente para lidar com a escuridão ; precisava ver a luz novamente , nem que cegasse todas as anulações feitas .

  A essência duelando .

  Gostaria ?

28 de abr. de 2010

Parafraseando o nada

  Parecia tão perto . Mas tanto que tinha medo de se aproximar , talvez , já com a idéia do real distanciamento .

  Se conseguisse tocar em um dos “galhos”, ficaria satisfeita ? ; se voasse até seu “topo” , mergulharia ? ; soltaria qualquer que fosse o sentimento , apenas por dizer que experimentou ? ; ou parafrasearia todo conjunto com qual já havia lidado ?

  Uma partida de xadrez . Medo . Movimentos . Um único erro : xeque! Derrubado do seu campo de concentração . Aguentaria por muito tempo ? Agiria impulsivamente ?

  Casas brancas e pretas . Visões coloridas . Seres incolores . Entretanto , de tanto misturar , viraria mais incolor ou colorido ?

  Mas a dama estava posicionada . Sabia muito bem . Não! Não sabia . Absolutamente nada . Tantos “tudos” e uma resolução um pouco insana de nadas . 

Conversa entre estátuas

  Duas estátuas . Duas almas . Mesmo estáticas , mexiam – se . Ah , como faziam . Porém , caminhavam opostamente , afim de encontrar uma igualdade .

  Ao virar-se , poderia , não interessasse os segundos apenas , enxergar através daquele brilho intenso .

  Era a cor mais bela que havia visto . Mas a mais bizarra : possuía todo emaranhado de sentimentos , era a teia sendo feita .

  Desejava e como , poder  quebrar , adentrando na confusão específica .

  Apenas o imaginar lhe trazia ansiedade . Por quê?

  Pensava em “passado” : conjugações “... e se ” e não o presente “... é agora” .

  Por isso .

  Vá em frente , não se abale com estátuas mecanizadas ; se abale em tornar-se uma .

  Adentre no brilho mais profundo , independente de conseqüências . Esqueça , pelo menos uma vez , o certo . 

15 de abr. de 2010

O filme que nunca será contado

  Despertou , atordoada . Olhou em volta . Não reconhecia . Estranhou . Pensamentos altos se seguiram : “Aonde estou?” . Sua voz aguda ecoou .

  Sentiu um toque . Virou-se , imediatamente reconhecendo aquelas linhas . O belo . Sorriu . Os lábios se encostaram . Línguas roçando numa velocidade excitante , porém ao mesmo tempo indescritível .

  O cheiro do sexo cobria as paredes geladas .

  Seus dedos agora penetravam , severa e carinhosamente o sexo encharcado . Um . Dois .

  As pernas tremiam . Sentiu a boca chupando , gemeu ; mais fundo ; suas mãos não paravam : ora segurava a cabeça ora o lençol .

  A penetrou com a língua . O gosto tomou conta dos lábios de uma maneira tão , tão ... perversa . Mais , mais ...

  Acendeu um cigarro .

  Sem contato . O medo do envolvimento era maior do que seus próprios sentimentos para .

  A neve ilustrava a cena principal do filme que nunca será contado . 

12 de abr. de 2010

Apenas

  O vento cruzava por entre os longos cabelos . Caminhava . Seguia em frente ? Não . Era o apenas .

  Algo faltava . Compreendia , porém não queria compreender .

  Avistou uma pedra ao longe . Sentou-se . Pequenas pedrinhas decoravam . As recolheu . Com a palma da mão aberta , pegava uma por uma , tacando em outras .

  O barulho refletia sobre os próprios sons : fechado ; abafado ; rítmico , mas descompassado .

  Ignorou , como sempre .

  O irreal era mais tranqüilo do que a realidade .

  Então fechou os olhos . Bem forte . Muito forte . Extremamente forte , a ponto de cegar-se interiormente .

  Era o apenas ...